Sempre gostei de História e entretêm-me muito os livros que se debruçam principalmente sobre Portugal. Livros "leves" que se assimilem bem mas com o grau científico necessário para não os encaramos só como Romance.
Acabei agora de ler INFANTAS DE PORTUGAL, RAINHAS EM ESPANHA, de Marsilio Cassoti, e foi com grande surpresa que soube que a fundadora do Museu do Prado tinha sido a Infanta Maria Isabel, filha de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, casada com D. Fernando VII de Espanha.
Sabiam?
Diário de um Imaginário Vivido
A tarde estava cinzenta. Pela estrada do Rodízio o carro rolava suavemente.
Estranho como a suavidade pode, como era o caso, ser em termos semiológicos um sinal de tristeza. Vinha da Tareca. O ar carregado e silencioso que antes criava em mim uma sensação de paz e sossego era agora só, e simplesmente, sossego. Não. Tristeza, insistiu o meu espírito obsidiantemente em definir. A memória da Ju sobrepunha-se, null, a tudo quanto via diante de mim, reduzirmos a autómato de condução, alienado da paisagem que desfilava em frente do meu olhar alheio. Só recordava os momentos por que passara.
Chegado á Tareca fui envolvido pela memória, ali materializada n uma porção de terra rasa ainda aqui e ali polvilhada por pétalas já murchas. Como estaria ela lá em baixo? Sentei-me à beira de uma magnólia que está junto, puxei do papel que levava comigo e li-lhe baixinho o texto que havia há dias escrito. Depois... depois, pus-me á espera que algo acontecesse mentalmente. E ... aconteceu!
Vi, vi sim, que o fio de ouro transformado em memória também havia transmutado aquele espaço no novo cestinho de dormir da JU! Um cestinho diferente que vai ser de flores juncado. Levantei-me, reguei-o e a seguir deambulei pelo jardim até deparar com o Hibisco em floração de uma beleza etérea, contrastante. Arranquei-lhe um haste com a flor mais bonita e plantei-a no centro do cestinho.
Olhei mais uma vez para trás.
"Ah! quando eu chegava e vinhas satisfeita dar-me as boas-vindas! Eras a única... E quando saía , como ficavas triste e, ao sol ou á chuva, sentada á beira da varanda, prescutavas horas a fio o ruído do motor do meu carro. Com tantos carros diferentes a passarem, sabias sempre quando era o meu. Como é que sabias isso?"
Hoje, saí com a certeza de que não terei mais ninguém á minha esperas....
Cheguei ao Bibió, quase vazio, para comer uma sandes. Tinha-me esquecido de almoçar. Começou a chover na desertificada Praia das Maçãs. No pequeno café apenas algumas senhoras, supostamente finas, bebiam, solitárias, uma bica. Estáticas, em contraluz, pareciam um quadro amargurado de Cézanne. Vultos cinzentos com chuva por fundo. Mas, em contraste, voltaste, JU, á minha memória. Tu eras um Chagall cheio de cores de rosa e azuis, com passarinhos a voar á tua volta, flores no ar, poesia em turbilhão.
Entre brumas quase opacas e entre água de uma chuva persistente, voltei a Lisboa.
JACM
4/10/94
De como da morte de uma simples cadelinha pôde nascer esta prosa tão poética.
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